quarta-feira, 12 de maio de 2010

o perfumeiro

Conheci Rebbeca Ricarte [repórter do jornal Correio da Paraíba] há poucos dias, durante a cobertura de um grande evento de moda em Belo Horizonte/MG. Jovem, bela, doce e inteligente, ela me encantou também pelo perfumeiro que levava pendurado como um pendantif. Rebbeca me contou uma linha história do objeto e eu então pedi que me enviasse um texto para publicá-lo aqui no meu blog. Para completar, minha amiga jornalista baiana Gabriela Cruz fez [gentilmente] uma série de fotos, da qual escolhi esta que você vê abaixo.
Le Parfum

"Borrifou-se
E da essência,
Fez-se afeto"

[Rebbeca Ricarte]

Nas coisas, nas pessoas e nos momentos, há um emaranhado de essências. O cheiro nos eleva, e nos sublima, nos pondera e nos enobrece, nos abstem e nos punge. Do cheiro se faz a essência, da essência se cria e perfume, e do perfume, todos os sentidos desabrocham. Mas, na minha particularidade, essência, cheiro e perfume sempre tiveram dois sentidos: quando novos e florais, movem-me a um estado de leveza e bem estar; quando velhos e amadeirados, a um efeito nostalgiante e precatório. Se bem usados, são suaves como um beijo, se mal dosados, poem em mim o mesmo efeito que uma dose de conhaque barato.
Tenho com eles uma relação de longa data. Sou filha de perfumista, neta de perfumista e ganhei de presente de quinze anos um perfumeiro antigo esquecido em um baú. Um objeto que sempre fora meu sonho de consumo, embora soubesse que para tê-lo não precisaria nada desembolsar, a não ser o puro merecimento que um dia pudesse ter como filha e mulher. E embora, para muitos, fosse apenas uma peça antiga, de valor ínfimo e beleza desgastada, para mim era um relicário daquilo que se carrega de mais importante na vida: a sua essência.
De cheio em cheiro, carrego no meu perfumeiro aquilo que borrifo e o que em mim borrifam. Penduro-o no meu pescoço, e por onde passo perfumo e sou perfumada. Deixo um essência que não consigo sentir, e em mim, cada um dos amores que passam, deixa um cheiro incondicional que guardo com carinho. E de essência em essência, produzo aos poucos o meu próprio perfume, que, misturado a tantos cheiros, torna-se único e de tamanho valor, que só um relicário tão experiente seria capaz de carregar...

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